José Gasparian em foto de Vanessa Mello.

Por trás das curtidas e da rotina de um Instagrammer profissional

Thiago Jansen
Magenta Brasil
6 min readFeb 20, 2017

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Com mais de 112 mil seguidores, o designer José Gasparian revela os segredos do seu sucesso na rede de fotos e avalia as recentes mudanças da plataforma

EE m 2012, quando começou a publicar fotos no Instagram com o iPhone 4 do seu pai, o então estudante de design José Gasparian não poderia imaginar que, 5 anos depois, se tornaria uma das principais referências de carioquice na rede. Com fotografias que reúnem elementos tropicais comuns ao cotidiano do Rio de Janeiro, como palmeiras e praias, Zé Felipe, como é conhecido entre os Instagrammers, conseguiu construir uma sólida comunidade ao redor do seu trabalho e hoje soma mais de 112 mil seguidores na plataforma de fotos.

Com tamanho sucesso, não demorou para que o hobby lhe rendesse mais do que curtidas: nos últimos dois anos, ele foi contratado por marcas como Netflix, Asus e Condé Nast Traveler para realizar postagens patrocinadas e criar conteúdo original para suas presenças digitais, além de levar suas fotos digitais ao mundo offline, em exposições organizadas por grifes como a carioca Foxton.

Ao Magenta, Zé Felipe conta sua trajetória até se tornar um Instagrammer profissional, as estratégias que utiliza para fazer sucesso na rede, como a prática fotográfica afeta o seu processo criativo enquanto designer na Huge e o que pensa sobre as mudanças recentes que o Instagram vem implementando em sua plataforma — spoiler: ele não é o maior fã delas.

Mais do que um hobby

Na faculdade, me juntei a três amigos que também se dedicavam ao Instagram para trocar experiências, testar o que funcionava na rede etc. Um deles, o Paulo del Valle, foi o primeiro de nós a estourar quando teve o seu perfil sugerido pela rede aos seus novos usuários. Quando ele foi convidado a fazer sua primeira viagem por conta das suas fotos, em 2014, foi quando me caiu a ficha de que o hobby poderia virar algo sério. A partir daí, passei a me dedicar mais a fotos do Rio, desenvolvendo meu próprio estilo. Pouco tempo depois, fui recomendado pela rede e vi o meu perfil pular de 2 mil seguidores para 9 mil em duas semanas. Aí a coisa deslanchou: desde então, fui recomendado mais duas vezes, a última em outubro de 2016.

Imagem por José Gasparian.

Minimalismo e paisagens

Tenho um estilo minimalista, mais focado em paisagens. Meu filtro favorito era o X-PRO II lá em 2012, mas hoje em dia passo batido pela tela de filtros porque edito as imagens no Lightroom. Tenho todo um ritual para editar fotos e a primeira coisa que altero é a exposição. Sempre. No final, comparo a imagem que estou editando com alguma outra minha já editada para ver se as cores estão parecidas, se o azul é o mesmo etc.

Rotina de um Instagrammer

Tenho toda uma rotina para o meu perfil. Normalmente, saio para fotografar no final de semana, durante o dia. No domingo de noite, seleciono as imagens que vou postar durante a semana e, quando estou com tempo, já as edito e planejo quando cada uma vai ao ar. E elas não são escolhidas de forma aleatória: no meu feed, as fotos precisam conversar entre si. Costumo publicar as fotos ao meio-dia (do Brasil), que considero um horário neutro em diversas partes do mundo e que as pessoas possam estar vendo o seu feed — algo que fazia mais sentido quando ele aparecia em ordem cronológica na rede social.

Fotografia, arte e design

As fotos que faço para o Instagram, os quadros que pinto e o meu trabalho como designer digital se conectam. Enquanto desenvolvia meu olhar para a fotografia, também estava amadurecendo meu trabalho como designer por conta da faculdade e da Huge. Claramente tenho uma atração por uma identidade visual minimalista e cores com uma pegada mais de pop art, o que se expressa em tudo que faço. Além disso, da prática no Instagram, trouxe para o meu processo de design um método de primeiro criar com experimentações e só depois focar nos objetivos do projeto.

Mudanças controversas

O Stories, apesar de aproximar seguidores das suas referências, tirou totalmente o foco na fotografia, que é (ou era) o core do Instagram. Fico imaginando qual seria a minha primeira impressão do app se criasse meu perfil hoje. É pra usar que nem o Snapchat ou é pra postar foto? O que eu faço primeiro? Que tipo de conteúdo é para criar? Antigamente, era só tirar a foto, editar e postar. Essas novas implementações podem até dar mais possibilidades de criação, mas lentamente criam uma segmentação dos seguidores: os que querem ver os Stories e os que preferem ver as imagens. Acho que seria muito mais difícil que o meu perfil começasse a fazer sucesso hoje do que foi no passado.

Imagem por José Gasparian.

O caminho para as curtidas

Eu diria que apostar em um estilo próprio e único é essencial, e isso requer muita prática e muitas fotos. Além disso, é bom postar diariamente porque seus seguidores começam a curtir mais fotos suas e elas passam a aparecer com mais frequência no topo do feed deles. Também é muito bom pensar em como suas fotos ficarão expostas no seu perfil porque ele é a porta de entrada de novos seguidores, e se eles percebem que ali há uma harmonia ficam mais propensos a clicar no botão de seguir. Outra dica: se postar a foto de alguém, sempre marque a pessoa porque, assim, a sua imagem tem a possibilidade de aparecer no Explore dos seguidores dela. E faça uso de hashtags: elas te possibilitam aparecer em perfis que possuem suas próprias marcações — o limite do Instagram é de 30 hashtags por postagem.

Marcas e creators

Há marcas que já sabem lidar com os creators nas redes sociais, mas ainda há as que não aprenderam. Nem todas as marcas conseguem enviar propostas coerentes na hora do briefing, por exemplo. Assim, uma dica para as marcas é: pesquisem melhor os creators que vocês estão querendo contratar e adaptem a proposta de acordo com o visual deles, caso contrário eles não vão aceitar algo totalmente fora do seu estilo. Outro problema que ainda vejo é que há marcas que insistem em abordar criadores de conteúdo com a proposta de realizar permutas como forma de pagamento, o que é complicado e soa pouco profissional.

Referências

Apesar de eu ter um estilo minimalista no Instagram, não sigo só perfis com essa pegada. Procuro acompanhar outros estilos porque na hora de fazer alguma foto, posso agregar essas referências a elas. Alguns dos meus perfis favoritos são: @mattcrump, @marcelonava, @graymalin, @diegoweisz, @gabscanu e @samuelelkins.

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