Foto por Ana Vasquez e Alexander Setzer.

Conheça a ‘cientista louca’ da Huge

Belinda Lanks
Magenta Brasil

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A tecnologista criativa Melanie Bossert é a líder do Make Space, o laboratório da agência para a aplicação da tecnologia no mundo físico.

TTma das adições mais incríveis ao escritório da Huge no Brooklyn, em Nova York, é uma área usada apenas por algumas pessoas da agência, mas que todos os mais de 550 profissionais do escritório concordam que deve existir. Batizado de Make Space, a área com cerca de 36 metros quadrados é composta por máquinas de comando numérico computadorizado (CNC, na sigla em inglês), impressoras 3D, uma cabine de pintura e gavetas de plástico com motores, sensores e micro-controladores. Esse é o escritório não-oficial de Melanie “Mel” Bossert, uma dos dois tecnólogos criativos da Huge, a “cientista louca residente” da agência e a pessoa que organiza um workshop bimestral para ensinar seus colegas sobre como tirar proveito das novas tecnologias. Seu objetivo é encorajar mais pessoas a usar o espaço construído por ela e encontrar novas formas para combinar os mundos físico e digital.

Mel trabalha na interseção entre design, tecnologia e times criativos para pesquisar, conceitualizar e transformar ideias em realidade, com frequência criando produtos físicos. Para uma marca de itens de luxo, por exemplo, ela criou uma instalação para complementar o aplicativo de personalização de bolsas desenvolvido pela Huge. À medida que o usuário escolhia a sua bolsa personalizada em seu smartphone, o acessório era então materializado por uma impressora 3D de bolsas perto dele.

Para refinar concepts, Bossert adota uma abordagem iterativa, criando diversos protótipos. “Meu processo (de trabalho) ‘é construa-para-pensar’”, ela afirma. “Você consegue acumular mais insights quando constrói um protótipo para algo. É algo importante para descobrir se a experiência que você criou realmente funciona como o esperado”.

Nessa entrevista, falamos com a designer nascida na Suíça sobre como ela começou a sua carreira e como é o seu processo de trabalho cotidiano.

Rotina matinal

Sempre vou de bicicleta do East Williamsburg para o escritório do trabalho, em Dumbo. Isso limpa a minha mente antes de eu começar a trabalhar. Tenho um alto-falante na minha mochila para tocar canções que gosto. Troquei meu fone por isso desde o último verão, quando comecei a usar um capacete, porque todos os meus amigos ficavam me mandando usar um.

Trabalho em equipe

Ainda que eu seja uma pessoa introvertida, prefiro trabalho como parte de um time. Se estou sozinha, às vezes entro em um caminho sem saída, ao passo que quando trabalho com alguém que simplesmente diz, “OK, talvez isso não seja tão importante”, consigo mudar a direção do meu trabalho. Não acho que a inovação acontece porque uma única pessoa inteligente direciona tudo que um time faz. As melhores ideias vêm de grupos de pessoas trabalhando juntas como uma unidade marchando em direção a uma visão conjunta, sempre construindo novos entendimentos de um problema por meio de diferentes perspectivas. Um time de sucesso cria um ambiente no qual pequenas ideias, mas poderosas, podem se sobressair.

Meu computador, meu amigo

Ganhei meu primeiro computador de meu pai, um Mac antigo, quando eu tinha oito anos. Meus amigos sempre tentavam me arrastar para brincar na “vida real”, mas eu era mais interessada nas possibilidades do mundo digital. Então, quando eu tinha por volta de 14 ou 15 anos, eu fazia parte de um grupo de jogos eletrônicos. Eu viajava com uma torre de computador e um monitor de 15 polegadas debaixo do braço para festas de jogatina, onde sentava em uma sala cheia de pessoas rodeadas de latas de Red Bull para brincar com jogos eletrônicos.

Early ed

O modelo educacional suíço é um pouco diferente do americano. Nele, temos a opção de uma experiência de trabalho prática que começa nos seus 15 anos e que normalmente dura de dois a quatro anos. A minha foi de quatro anos, em uma rede de desenvolvimento de software e suporte técnico. Eu trabalhava em um escritório durante três dias na semana e ia para a escola em dois. Passei a achar a programação fascinante — ser capaz de alterar sistemas e criar o meu próprio era muito empoderador. Ao final dos anos escolares, passei a me interessar por design e como as pessoas realmente interagem com os produtos que criamos. Então, enveredei para a arte e o design, me graduando na Universidade das Artes em Berlim, onde comecei a explorar a relação entre objetos e espaços físicos, e como eles podem se comunicar uns com os outros por meio de eletrônicos. Me mudei para Nova York depois que ganhei uma bolsa de mestrado na Parsons School of Design.

Robôs para o resgate

Acredito que o futuro será melhor. Não acho que as máquinas vão nos dominar. A tecnologia, no final das contas, é apenas uma ferramenta. O machine learning é só uma ferramenta. Ele não vai nos substituir, mas sim nos empoderar. Vamos trabalhar com robôs e talvez eles até trabalhem para nós de modo que não tenhamos que fazer mais isso. No entanto, ainda temos algumas questões éticas para responder: como a economia vai ser impactada e como criaremos novos empregos depois que novos tipos de trabalhos se tornarem autônomos? O futuro é mais sobre como as pessoas e a tecnologia vão colaborar entre si do que sobre o que a tecnologia pode fazer por nós.

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Editor-in-chief at Razorfish. Formerly of Magenta, Bloomberg Businessweek, Fast Company, and WIRED. For more about me, check out belindalanks.com.