Como o homem por trás do crescimento do Giphy se mantém produtivo

Belinda Lanks
Magenta Brasil
Published in
8 min readFeb 10, 2017

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Alex Chung, CEO do site de GIFs, fala sobre a importância de se trabalhar tendo um Grande Plano Mestre como objetivo.

Você se lembra da vida antes dos GIFs? Há poucos anos, eles ainda não faziam parte do léxico popular; hoje, porém, eles alimentam e-mails de escritórios, G-chats e Slack rooms, usados como uma abreviação visual potente de sentimentos que vão de confusão e nojo, à admiração e irreverência. Quando as palavras não parecem adequadas, gifs preenchem o vazio linguístico. E também servem a outro propósito: sua leviandade empresta uma faísca de humor aos dias monótonos de trabalho.

Alex Chung, fundador e CEO da Giphy, merece créditos pela popularização dos GIFs (e por animar a comunicação de escritório para todos). Em 2012, ele teve a ideia de construir um repositório para gifs — os vídeos em looping super curtos que estavam surgindo em sites como o Tumblr e o Imgur. Ele passou um pente fino na internet para achar arquivos .gif em movimento e os organizou com palavras-chave pesquisáveis. Poucas horas depois do lançamento do Giphy em 2013, ele já tinha 30.000 usuários. Não muito depois, o site recebeu uma oferta de investimento de US $ 1 milhão do Betaworks, um dos financiadores originais do Kickstarter.

Nos últimos três anos, o Giphy tem experimentado uma maciça arrecadação de capital de risco, aumentando sua avaliação de tímidos US $ 151 milhões para US $ 600 milhões. A empresa também está experimentando um crescimento expressivo em sua estrutura, contratando cada vez mais pessoas para conseguir satisfazer as necessidades de uma audiência crescente — o site recebe mais de 100 milhões de visitantes mensais únicos e quatro bilhões de hits de sua API. Para manter o ritmo, Chung reorganiza a empresa a cada seis meses para avaliar o que funciona e o que não funciona. “Você tem que se adaptar”, diz ele. “Assim como você está sempre trabalhando em uma nova versão do seu produto, você tem que sempre fazer uma outra versão da sua startup”. Mas algumas regalias do mundo startup permanecem as mesmas: almoço grátis, música ao vivo com DJ durante o dia e bebidas preparadas por bartenders para celebrar cada semana.

Rotina matinal

Eu acho que todos que dizem que possuem uma rotina matinal são provavelmente mentirosos, psicopatas ou das forças armadas. Isso me lembra o filme “Psicopata Americano”. Christian Bale, atuando como Patrick Bateman, tinha uma rotina matinal intensa e que exigia muita dedicação. É difícil ter todo esse controle. De manhã, eu costumo lutar para sair da cama às 8h e convencer-me de que vale a pena. Então, me espreguiço por 5 minutos, porque ainda estou dormindo. Daí, honestamente, pego qualquer roupa que esteja no chão e, em geral, saio correndo para o trabalho.

As primeiras horas

Minhas melhores horas de trabalho são geralmente entre 10h e meia-noite, e então, entre 2h e 5h da madrugada, porque não há ninguém por perto e ninguém te liga. Exatamente entre meia-noite e 2h da manhã é quando todos saem dos bares ou querem que você vá até eles, então, após as 2h da manhã é quando todo mundo cai fora e você tem três ou quatro horas antes que alguém fale com você. Esta é a melhor hora para se escrever e-mails também, porque você não tem a distração de e-mails chegando.

Início tardio

Nosso escritório abre às 10h30 da manhã. Tentamos trocar o horário de entrada uma vez. Quase 100% de nós votamos para que começássemos mais cedo, para que pudéssemos produzir mais e, então, ninguém apareceu às 9h30. A primeira coisa que faço é tomar um pouco de café, então, bato papo com as pessoas do escritório e, depois, tento ver a maior quantidade de e-mails possível antes do meio dia.

Agenda de reuniões

Temos uma reunião de uma hora de duração às 10h30 da manhã todos os dias. Também temos uma demo feita por todos — como uma recapitulação — sextas-feiras às 17h para falar sobre tudo que construímos. Geralmente, temos um bartender que faz o tipo de bebida que você quiser. Cada grupo tem a sua reunião e eu tenho uma reunião executiva toda semana, além de algumas reuniões individuais com pessoas com as quais trabalho diretamente.

Alex Chung, CEO do Giphy.

Partilhar o pão

Uma coisa que fazemos desde o nosso comecinho é almoçarmos todos juntos. Em nosso novo escritório, nós meio que nos sentamos no chão. Mas, temos quatro mesas grandes de piquenique sendo feitas. É como ter uma cantina escolar, onde as pessoas podem se relacionar entre si e socializar enquanto comem. É uma tradição que remonta toda a humanidade. Isto traz união e faz com que as pessoas conheçam umas às outras.

Repetir, repetir, repetir

A cada seis meses mais ou menos, contratamos um novo grupo de pessoas, momento em que descobrimos que grupos estão trabalhando e quais não estão. Você deve estar constantemente repetindo não só coisas que já tenha feito, mas também a forma com que a sua empresa foi estruturada. Uma empresa composta por 5 pessoas vive sob regras bem diferentes do que uma empresa com 10, ou 20, ou 40, ou 80 pessoas. A menos que você se adapte à cultura da empresa e ao seu estilo, e às regras, e às reuniões, você simplesmente não será capaz de acompanhá-la.

Trocar as mesas de lugar

Passo muito tempo organizando mesas. No início, as pessoas diziam coisas do tipo, “Isso é horrível. Por que está fazendo isso? Você está me fazendo deixar meu melhor amigo”. Então, você os troca de lugar e eles ficam tipo, “Uau, estes são meus melhores amigos. Eu nunca teria conhecido essa pessoa se não fosse por você”. Acaba sendo muito engraçado. Principalmente no clima político de hoje, precisamos de mais pessoas para conversar e para nos aproximar. Proximidade é o que traz empatia e entendimento, e ajuda todos a trabalharem juntos. Se há alguém com quem você não fala, você não vai ser empático com relação ao seu ponto de vista na tomada de decisões de produtos. É uma analogia de como nosso país deve trabalhar.

Nem tudo é sobre dados

Muitas startups vão dizer que funcionam à base de dados. Mas há um problema filosófico nisso: você pode funcionar à base de dados dentro do contexto de seu público alvo atual, mas para expandir seu público alvo e ir além do que está fazendo, você tem que ter visão de futuro. Se a Apple funcionasse com base nos dados, o iPhone não teria sido criado. No momento, a referência eram os teclados. Lembro-me de pessoas dizerem: “se isso não tem um teclado, é a coisa mais estúpida da vida”. Agora, estamos tipo, “O que é um teclado?”.

Meu Grande Plano Mestre

Todo ano, uso um notebook Moleskine diferente. Na parte de trás dele, tenho uma lista que se chama o Grande Plano Mestre. Lá tem listado tudo que quero fazer na vida — todos os lugares que quero visitar (Nova Zelândia e Hong Kong), as coisas que quero aprender a fazer (ensinar filosofia, ser dono de uma cafeteria, gerenciar um cinema). Tento impor uma regra de que esta lista tenha apenas duas páginas, apenas uma página frente e verso. Isso acaba sendo a bússola para toda a minha energia criativa. Se não está na lista, posso pensar sobre, mas não agirei. É meio para chegar à montanha, não importa o caminho, contanto que você continue naquela direção. Se você sabe que vai acabar lá, o resto é meio esotérico.

Ir ao cinema

Eu não tenho conseguido ir já tem um tempo, mas eu costumava assistir filmes no cinema pelo menos uma ou duas vezes na semana. Esse é o único lugar talvez fora de uma biblioteca onde ninguém está autorizado a falar com você. Você está no escuro, as pessoas o entretém e ali torna-se um lugar meditativo para recarregar as energias. Sinto como se fosse uma yoga mental. Você vai à yoga para relaxar o seu corpo; cinemas acabam sendo lugares para os quais eu vou para relaxar a minha mente.

Seja um sueco

Sempre que conheço alguém da Suécia, eles são os mais simpáticos, os mais amigáveis e os mais educados. Lembro-me de passear pela Suécia uma vez e as pessoas me convidarem para festas. A Islândia é muito parecida com isso também, onde eles convidam você para jantar e depois para se jogar em seus sofás. Esse nível de hospitalidade foi realmente inspirador. No mundo, há anfitriões e convidados. Todos os que trabalham aqui são anfitriões. Gostamos de deixar as pessoas bem à vontade.

Ficar entediado

Eu tento passar uma semana sozinho em algum lugar super quieto para que eu possa ficar super entediado. É como quando o luz é cortada e você não pode assistir filmes e nem mexer no celular. Você precisa começar a se entreter com ideias e você acaba sendo super criativo. Dizem que a necessidade é a mãe da invenção. Eu sinto que o tédio é irmão da invenção.

Trilha sonora

Temos um DJ no escritório e todos escolhem suas trilhas favoritas. Para mim, a música que ouço depende do tipo de trabalho que estou fazendo. Se eu estou codando, eu provavelmente vou precisar de algum tipo de punk rock; ele faz com que eu mantenha meu pensamento rápido. Se estiver escrevendo um e-mail, preciso de algum pós-rock, algo que não tenha letra. Explosion in the sky, famosos por fazerem a trilha sonora de “Friday Night Lights” (série americana), é uma boa banda para ouvir ao escrever e-mails.

Conselhos para um Eu mais jovem

O meu Eu mais jovem não ouviria a mim mesmo. Mas eu provavelmente diria que a maior lição que aprendi é a de que tudo ficará bem. Conheça a si mesmo — o que você pode e não pode fazer — e esteja OK com isso. Você sabe aquele sentimento que sente quando acha que conseguirá passar no teste ou aquele de que você não vai conseguir cumprir o prazo? Você acaba se preocupando com todas essas coisas e, então, acaba ficando OK no fim das contas. Nada de tão ruim acontece. Eu sinto o mesmo sobre esta última eleição. Não importa o que aconteça, nós vamos superar, eu espero.

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Editor-in-chief at Razorfish. Formerly of Magenta, Bloomberg Businessweek, Fast Company, and WIRED. For more about me, check out belindalanks.com.