Heather Knight com seu coletivo de robôs Marilyn Monrobot.

Como Heather Knight quer melhorar nossa vida social com o uso de robôs

Kara Cutruzzula
Magenta Brasil
7 min readAug 24, 2017

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A renomada engenheira criadora de máquinas na Google X explica como elas irão aprimorar nossas habilidades, não substituí-las.

TTodos nós nos sentimos bastante familiarizados com os benefícios da robótica quando falamos de, por exemplo, aspiradores de pó. Mas e se um robô assistente pudesse transformar a nossa vida social? Se você levasse um robô para uma festa, ele poderia lembrar dos nomes de todo mundo que você conhece, servir como um catalisador para conversas e até tornar determinados assuntos mais leves com um timing cômico cuidadosamente programado.

Esse tipo de colaboração entre robôs e humanos é apenas um exemplo das questões interessantes que Heather Knight levanta e responde em seu trabalho como roboticista social. Simplificando: ela trabalha construindo robôs que se destacam na interação humana e social por serem carismáticos. Atualmente, ela atua como “Artista Robótica em Residência”, na Google X, fazendo coisas que, bem, ela não pode revelar. Em breve, ela também irá dirigir o novo laboratório de pesquisas CHARISMA (trata-se de um acrônimo em inglês para “Humanos e Robôs Colaborativos: Interação, Sociabilidade, Aprendizagem de Máquina e Arte), da Universidade do Estado de Oregon.

Desde que participou de um TED talk em 2010 com um robô comediante stand-up, Knight se tornou uma presença familiar no circuito de inovação. Em junho passado, ela participou do Cannes Lions Innovation com seu “colega” Ginger o Robô, quando discutiu se dados podem ser usados para fazer as pessoas sorrirem e o que isso significa para marcas e agências. Ela também está organizando uma nova edição do Festival de Filmes de Robôs, previsto para dezembro desse ano, em Los Angeles. Anteriormente, quando estava se tornando PhD na Carnegie Mellon, ela criou a Marilyn Monrobot, uma companhia de teatro onde se apresenta com, sim, você acertou, robôs. Ah, e durante os seus dias no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, ela ajudou a criar a máquina impossível-de-ser-ignorada Rube Goldberg, do videoclipe “This Too Shall Pass”, do OK Go (com mais de 57 milhões de visualizações e contanto).

Knight trabalha em duas frentes: “O produto final da minha pesquisa é mais pesquisa e o objetivo final da Marilyn Monrobot é entretenimento”, explica ela. Como a atuação não lhe é algo natural, ela prefere que seus robôs coadjuvantes realizem essa parte do trabalho — “são o Superman para o meu Clark Kent”, ela afirma.

Apesar da relação de Knight com o mundo do entretenimento, a constante presença de robôs na cultura pop pode, na verdade, tornar seu trabalho mais difícil de ser explicado. As pessoas costumam naturalmente pensar que robôs são mais capazes do que eles realmente são, ela explica. “Mas eu vi um robô fazer isso em um filme!”. Sim, ela afirma, mas fazê-los conseguir agir assim na vida real? Isso é difícil. Muito difícil. No entanto, é exatamente no que ela está trabalhando: na tecnologia que é mais integrada com a forma como interagimos uns com os outros, a que nos aproxima e melhora a nossa comunicação. Conversamos com Knight sobre como ela aborda grandes questões sobre o tema, o futuro dos robôs sociais e por que um saber “sustentar um trabalho chato” é a única forma de avançar.

Colaboração é chave

Sou uma daquelas pessoas que têm 20 ideas a mais do que é humanamente possível. Então, quando você tem muitas ideias, pode achar coisas que deixem as pessoas animadas e fazer algo próximo a isso. Quando você encarrega pessoas para tocar projetos, elas acabam adicionando suas próprias ideias a eles e isso é muito inspirador. Uma das razões pelas quais gosto de pesquisa é o fato de que não estamos apenas tentando resolver como fazer um produto funcionar, mas também estamos definindo o futuro da tecnologia.

Robôs vão adicionar habilidades, não substituir

Um dos temas que estão mais quentes no mundo da robótica é sobre como podemos fazer máquinas mais colaborativas. Carros autônomos se enquadram nessa ideia, em que você precisa que uma pessoa e uma máquina trabalhem juntos. Acredito que há um grande potencial nisso. Esse paradigma de pensamento não é necessariamente sobre como fazer com que robôs façam o que as pessoas já são capazes — essa ideia é um pouco antiquada — , mas como construir máquinas colaborativas.

Os poderes mágicos da foca robótica

Se pudéssemos fazer a tecnologia mais social, poderíamos usá-la para aproximar as pessoas. Um exemplo é a foca robótica usada por quase uma década em casas de repouso no Japão. Quando ela foi lançada, foram realizados estudos sobre como as pessoas se sentiam quando as usavam. A conclusão foi que o robô dava às pessoas uma desculpa para começarem a falar umas com as outras, porque trazia a elas memórias de infância, de um animal de estimação antigo. Ela se tornou esse objeto pelo qual as pessoas se conectavam umas com as outras.

Pegando emprestado do teatro

Eu comecei a trabalhar com arte interativa e construindo coisas, e um dos meus primeiros projetos que fiz foi um jardim com flores robóticas. Me encantei ao ver pessoas que não sabiam nada sobre robôs lhes descobrirem. Instalações são experiências bastante breves, mas o teatro constrói relações com o tempo, e essa é uma dinâmica mais similar a como seria se você tivesse um robô em uma casa de repouso ou se eles estivessem entregando algo em seu escritório.

Escrever + Programação = ❤

Você faz ambas as coisas sozinho, por conta própria, a maior parte do tempo. É algo muito íntimo, você e a sua cabeça, suas ideias. Quando eu estava no colégio, eu realmente queria ir para Princeton porque era uma Universidade igualmente boa em áreas humanas e em engenharia, e eu queria estudar literatura e engenharia, mas não conseguia me decidir entre elas. Acabei fazendo engenharia no MIT, mas o que eles não lhe contam quando você chega no ambiente acadêmico é que a escrita é o meio pelo qual você se comunica, ponto final.

Sustentando o trabalho chato

Uma coisa que aprendi no meu programa de PhD é que o progresso não acontece em um dia qualquer. É muito importante pensar em uma escala semanal ou mensal quando você está realizando iniciativas criativas. É como a nutrição. Mesmo que você coma dois sorvetes em um determinado dia, isso não significa necessariamente que você vai acabar com colesterol alto. A questão é ser bom consigo mesmo e encontrar tempo. É ótimo tentar fazer o seu trabalho todos os dias, mas, no final das contas, contanto que no final da semana ou do mês o seu trabalho esteja acontecendo, então você terá progresso. Pequenos comprometimentos fazem diferença. Todo mundo pode virar a noite fazendo trabalhos durante a graduação, mas se você quiser ter sucesso na vida, você tem que descobrir como não apenas ser capaz de fazer isso, mas também como sustentar o trabalho chato de todos os dias, toda semana. É assim que a tartaruga vence a lebre.

Saiba escolher seus limites

Eu costumava dizer a mim mesma essa história de que tinha que estar nervosa ou ter uma experiência negativa para realmente conseguir uma conquista. Eu estudei por 11 anos antes de chegar ao Ensino Médio e, naquela época, era algo realmente estimulante porque você está trabalhando em direção ao seu próximo marco — no caso, evoluir academicamente. No entanto, algo que é diferente na pesquisa ou na escrita é que você precisa decidir onde seus limites estão. Ninguém vai fazer isso por você. Você precisa escolher as suas metas, celebrar seus sucessos e não ficar obcecado com os fracassos de um dia.

Lições de Stephen King

Em seu livro “On Writing, Stephen King fala sobre ter colado esse longo prego próximo da sua cama durante a época de colégio. Quando ele enviou a sua primeira história para uma editora e foi rejeitado, ele ficou tão orgulhoso que pegou a carta de rejeição — eles ainda enviavam uma carta em papel na época — e colocou no prego. Ao final do Ensino Médio, o prego estava lotado de cartas de rejeição. Para ele, isso representava o sucesso. Ele estava ansioso por colecionar rejeições. Contanto que você esteja se esforçando na sua trajetória e desenvolvendo esse tipo de disciplina, e prática, então não se trata de celebrar fracassos, mas a audácia de tentar.

Sobre encarar a rejeição

Se tornar um PhD é, em si, uma verdadeira maratona. Você tem essa tese de 200 páginas, esse grande calhamaço de papel que parece que nunca vai acabar. Mesmo na noite anterior à minha defesa, em agosto do ano passado, eu dizia a mim mesma, “Alguém já desistiu do seu PhD na noite anterior à defesa da sua tese?”. Até o último dia, eu não acreditava que seria capaz de conseguir concluí-la. Há um professor de Princeton que publicou um currículo com todos os seus fracassos. Todo mundo que fez algo surpreendente tem uma lista dessas.

Fechando a porta

Não acho que aqueles que fazem trabalhos criativos e cuja a produção venha deles mesmos conseguem sobreviver sem ter um espaço próprio de trabalho. É preciso dar um jeito para isso. Boa parte do meu trabalho é realizar mentoria e definitivamente eu preciso estar disponível para as pessoas falarem comigo. Mas ter 90 minutos ou 2 horas quando possa fechar a minha porta faz com que eu deixe a chama da criatividade queimar e garante que eu consiga trabalhar duro nas minhas ideias. É importante ter essa uma ou duas horas de consistência todos os dias. É tudo que eu preciso.

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