Como a Revista Zupi se tornou uma das principais referências criativas no Brasil

Thiago Jansen
Magenta Brasil

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Idealizador da publicação, Allan Szacher fala sobre a produção da icônica revista de arte alternativa e sua constante procura por artistas originais.

EE m 2001, quando criou o portal Zupi para destacar boas referências no mercado criativo brasileiro, o designer paulista Allan Szacher não imaginava que a iniciativa viria a se firmar como um dos principais expoentes da área em curadoria de conteúdo no Brasil. Hoje em sua 54ª edição impressa (além de continuar como site), a Revista Zupi é distribuída trimestralmente em mais de 20 países, com uma tiragem regular de 15 mil exemplares. Tamanho sucesso ainda deu origem, em 2005, ao Pixel Show, um dos maiores eventos regulares de arte e criatividade da América Latina.

Allan Szacher. Imagem de arquivo pessoal.

“O projeto surgiu como um hobby paralelo ao meu trabalho no estúdio de design do qual sou sócio com meu irmão. Ainda que o objetivo principal sempre fosse registrar, fomentar e inspirar profissionais criativos brasileiros, a verdade é que a iniciativa também servia como uma forma de distração para o meu trabalho com clientes, que por vezes pode ser bastante desgastante”, conta Allan.

Primeira revista brasileira a ser reconhecida como referência local pelo International Council of Design, a Zupi já teve em suas capas trabalhos de artistas brasileiros e internacionais dos mais variados estilos, como Os gêmeos, Vik Muniz, Alex Ross, James Jirat, eBoy, Molly Crabapple, Mike Deodato Jr., Daniela Uhlig e Asya Kozina.

Em meio à correria da produção da 13ª edição do Pixel Show, que ocorre em dezembro, em São Paulo, Allan conversou com a Magenta sobre a história da Zupi. Abaixo, ele também comenta seus hábitos para manter-se atualizado sobre o mercado criativo e explica como conseguiu construir uma rede com milhares de colaboradores em todo mundo, entre designers, ilustradores, fotógrafos e artistas plásticos.

Carência criativa

Quando criei o site da Zupi, ele surgiu como um projeto paralelo, mas sua versão impressa só veio depois, a partir da carência de publicações voltadas para o mercado criativo no Brasil. Na época, a maioria das revistas de arte ou publicidade que chegavam aqui eram gringas e, por isso, muito caras. Minha ideia era criar algo semelhante, mas acessível. Começamos só comigo e uma amiga jornalista, e fomos crescendo daí. Hoje somos uma equipe com umas 12 pessoas.

Padrão de qualidade

Acredito que a boa circulação que conquistamos com a Zupi se deve ao nosso pioneirismo, mas também ao nosso planejamento e à qualidade gráfica pela qual sempre prezamos na publicação. Mantemos uma estratégia crossmedia que envolve redes sociais, site e evento. Também temos uma preocupação grande com a gramatura e qualidade do papel que usamos, e, principalmente, em relação à apresentação visual que damos ao conteúdo.

Originalidade sobre qualidade

Quando estou selecionando o que entrará na revista, valorizo muito mais a originalidade do artista do que a sua qualidade técnica. Nossa abordagem acaba sendo muito de coolhunting: prezamos por mostrar novidades que encontramos por aí, artistas que deveriam estar tendo atenção e não estão, trabalhos que chamam a atenção por serem fora do comum.

Hábitos de curador

Passo boa parte do meu tempo pesquisando referências por aí. Busco muita coisa online mesmo e, pra isso, o Feedly é uma excelente ferramenta — tenho umas 2 mil fontes cadastradas na minha conta. Mesmo quando viajo, procuro rodar a pé pelos lugares que visito, busco saber mais sobre os artistas locais, vou a pequenas galerias e feiras de arte. Por último, livros como “Art Collecting Method”, “Art as an investment” e “Art World” são grandes referências para o meu trabalho.

Pequenos notáveis

Para entrar na Zupi o artista não precisa ter um trabalho consagrado. Por conta disso, com frequência esbarramos em muita coisa legal fora do mainstream. Um exemplo recente é o estúdio de design Marmota Vs. Milky, formado por um casal de ilustradores de São Paulo. Os conheci por acaso, numa palestra que dei em uma das edições do evento NDesign, no ano passado. Achei o trabalho dos caras tão original, com uma pegada contemporânea, que os convidei pra fazer a identidade visual da edição 2016 e 2017 do Pixel Show.

Crescimento constante

Sem dúvida, o Pixel Show é uma das grandes forças por trás da revista. Começamos em 2005 no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo, com um público de 300 pessoas. O objetivo sempre foi juntar o máximo de iniciativas criativas em um só lugar, por alguns dias, e colocar o pessoal para trocar ideias, como um hub criativo. No quarto ano, alcançamos um público de 5 mil pessoas e começamos a incluir convidados internacionais. No ano passado, recebemos 25 mil pessoas e a expectativa para essa edição é superar esse número.

Rede colaborativa

Hoje temos uma lista com mais de 20 mil pessoas cadastradas que já participaram da revista, entre designers, ilustradores, fotógrafos etc. Isso exige estratégia, paciência, além de, claro, ter um projeto bacana. Em geral, as pessoas têm uma desconfiança natural quando abordadas para um projeto colaborativo e tendem a te olhar como um potencial concorrente. Leva tempo e comprometimento para convencê-las de que seu projeto veio para ficar. E, claro, envolvimento: apoiar eventos, entrar em contato com potenciais colaboradores e responder feedbacks de leitores.

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