A diretora Karin Fong, da Imaginary Forces.

Como a diretora Karin Fong encontra seus momentos inspiração

Lauren Streib
Magenta Brasil
6 min readMar 24, 2017

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A premiada força criativa por trás das sequências de abertura de séries como Mad Men e Stranger Things investiga suas inspirações diárias.

KKarin Fong vem criando o design para títulos de filmes por mais de duas décadas. Ela é uma das fundadoras da Imaginary Forces, um estúdio criativo e uma produtora conhecida por criar algumas das mais icônicas sequências de abertura de filmes e seriados de TV, para programas como Mad Men, Stranger Things e Boardwalk Empire. Trata-se de uma forma de arte que vem ganhando atenção crescente de fãs que caçam spoilers nos créditos de abertura de Game of Thrones, ou espectadores que se deleitam com a fonte nostálgica de Stranger Things.

“Agora, é maravilhoso que, devido à forma como a televisão se tornou mais cinematográfica, seja possível fazer coisas que são abstratas”, diz Fong. “Você não tem que responder tantas perguntas e você pode tirar proveito da curiosidade do público”.

Na semana passada, Fong participou de uma sessão do South by Southwest (SXSW), festival que reúne cinema, música e tecnologia, apelidada por “Title Sequences: Icons in the Age of Binging” (“Sequências de abertura: Ícones da Era do Binge Watching”, em tradução livre). Antes do evento, ela falou à Magenta sobre seu processo de trabalho e sobre sua afinidade criativa pela desordem e trocadilhos ruins.

O local de trabalho da diretora (imagem por Fong)

Hora do rush

Tirar meus filhos de casa — essa é a minha rotina matinal. Tentamos tomar café da manhã juntos, já que à noite nem sempre conseguimos nos reunir para jantar. E eu tento aproveitar o tempo que tenho para levar meu filho para a escola, quando consigo. Honestamente, nunca fui uma pessoa com hábitos diurnos. Essa rotina é apenas uma corrida louca para fora de casa.

Efeito colateral da criatividade

Minha mesa sempre foi uma bagunça. Eu tenho muita coisa. Tenho um guarda-roupas com roupas vintage. Há storyboards colados nas paredes, porque eu sempre gosto de mudar as coisas fisicamente de lugar e os papéis vão junto. Há também sobras de acessórios de cenas usados em gravações e livros, claro. Há uma lightbox no chão que não deveria estar ali.

As pessoas que trabalham à minha volta definitivamente toleram muita confusão, mas eu sempre brinco que você sabe que o trabalho está sendo feito quando você vê restos físicos do processo. Eu sempre gosto de ver isso quando vou pra outros estúdios. Não me leve a mal, sou doida pra ter um espaço lindamente organizado. Isso ajuda o meu processo de limpar as coisas e quase obter uma tela em branco. Mas eu sei bem as minhas tendências de ratinha.

Há outra coisa especial em minha mesa. É um daqueles Lumio lights que parecem livros iluminados, presente do meu marido pelo nosso aniversário de casamento.

Boardwalk Empire’s title sequence

Dinâmica de equipe

Eu costumava achar bem difícil delegar. Mas entendi que parte da arte está em receber todas essas pessoas diferentes, que são realmente boas em trabalhar juntas, para fazer algo realmente bacana. Então, grande parte do meu tempo uso trabalhando com equipes e tentando me certificar de que todos nós estamos nos beneficiando da experiência e talento de cada um.

Eu sou sortuda por estar cercada por pessoas com as quais trabalhei por muito tempo. Eu admiro seus gostos e seus talentos. Ter esse tipo de mente e talento para confiar tem sido realmente vantajoso; é reconfortante criativamente e emocionalmente.

Criando espaço

Eu me tornei muito mais confortável em me afastar quando tenho um bloqueio criativo. Quando eu era mais nova, achava que tinha que continuar trabalhando até o trabalho acabar. Uma visão meio “eu posso superar esse obstáculo”. Agora eu sei que é muito benéfico fazer uma pausa, fazer uma boa refeição e falar com outras pessoas. Eu também valorizo muito mais meu sono. Eu não sei se isso é uma coisa da idade ou o fato de ter que sair de casa tão cedo hoje em dia.

Eu não tenho medo de que as ideias acabem. Eu confio mais, mas também me preparo mais. Eu gosto de saber antes o que está por vir. Mesmo que algo não seja para imediatamente, gosto de falar sobre isso antes, porque eu realmente acho que haverá momentos de inspiração enquanto estou absorvendo o mundo ou assistindo alguma outra coisa. Você se dá mais chances para momentos de inspiração quando se dá mais espaço.

Ratinho a jato

Eu amo viajar. Eu acho que é provavelmente graças ao meu pai, que trabalhou para as companhias aéreas quando estávamos crescendo, então, minha infância está cheia de lembranças de viagens com a minha família. Aquela ímpeto de “ah, eu tenho tempo livre, vou pegar um avião” nunca foi embora.

Espero que nossas crianças [idades de 4 e 6 anos] se tornem viajantes experientes também. Nós levamos nossos filhos sempre que podemos — fomos com eles em um longo voo para a Europa, onde a avó deles mora. Queremos incutir neles esse amor por viagens. Acho que provavelmente gastaremos mais tempo com viagens mais longas ao redor do mundo até que fiquem mais velhos. Esse é o nosso plano mesmo assim. Nós ainda não lhes dissemos nada.

Cata papel

Um amigo estava rindo de mim outro dia. Ele dizia: “você ainda recebe o jornal de domingo impresso?”. Mas eu amo isso. Eu amo o The New York Times impresso e amo poder lê-lo dentro da banheira. Eu tenho um Kindle, mas sempre tenho medo de deixá-lo cair.

Terapia das teclas

Voltei a tocar piano. Nós temos um piano porque meu marido e meu filho começaram a fazer aulas. Eu toquei por dez anos quando era mais nova e só parei de tocar quando estava na faculdade. Lembro-me de quando minha mãe me disse: “quando estiver mais velha, isso será algo relaxante para você e até terapêutico”. E é verdade, é como um tipo de meditação.

Caixa de colagem

Eu sempre rascunhei em restos e pedaços de papel. Claro, agora quando desenho, eu tiro uma foto do meu celular e isso os torna facilmente acessíveis. Ter um celular ou uma câmera comigo o tempo todo me facilita juntar esses pedaços. Eu basicamente considero meu computador uma caixa de colagem.

Jogo de palavras

Eu amo trocadilhos, para o desgosto de muitos. Gosto tanto dos verbais quanto dos visuais… os realmente irritantes. Esse é provavelmente o motivo pelo qual o campo do design gráfico, livros infantis e filmes — que são tanto visuais quanto verbais ao mesmo tempo — são tão interessantes para mim. Na verdade eu meio que me admiro pelo fato de que eu tenho um emprego que me possibilita usar trocadilhos constantemente.

Anos atrás, a artista Ayse Birsel e eu fizemos uma exposição na Artist’s Space sobre palavras que não possuem tradução direta para o inglês. Eu sempre as colecionei. O exemplo clássico é schadenfreude, que é uma palavra alemã que se refere à felicidade na desgraça alheia.

A minha favorita hoje em dia, provavelmente por eu ser casada com um holandês, é gezellig. É essa sensação de calor humano que vem de grandes relações sociais. Então, uma festa realmente boa é gezellig ou um jantar realmente bom com seu amigo onde a conversa flui e há uma sintonia natural também é. É uma palavra linda porque se refere a este calor de ser, este calor comunal.

Outra de minhas favoritas é logom, que é sueca. Ela significa “o suficiente.” Não há lagom nos EUA. Em inglês, “just enough” significa que você está fazendo o mínimo possível. É quase negativo.

Sunny days

Uma de minhas heroínas é a mulher que criou a Vila Sésamo. A história de como a Vila Sésamo surgiu é bem divertida e fascinante. Naquele tempo, os programas de televisão para crianças eram realmente diferentes. Então, o fato de que Joan Ganz Cooney criou, a partir de todas essas referência, incluindo jingles publicitários cativantes e as animações ecléticas dos anos 1960, algo que ensinava as crianças o alfabeto e os numerais, eu acho isso realmente interessante. É uma daquelas ideias que você sabe que é boa porque já parece ser “claro que existe e claro que não há um mundo sem!”.

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Editor of @VbyViacom. Formerly: Huge, Bloomberg, The Daily Beast, Forbes.